O Rio Content Market é um evento muito bacana. Pelo o que eu aprendi, sempre foi, eu é que não dava a devida atenção. Não sou o único, muita gente não dá. Ainda. Para tornar o meu arrependimento mais forte, sempre foi aqui no meu quintal, Barra da Tijuca, walking distance de casa.
Programação interessante, palestrantes de altíssimo nível, conforto, tudo em cima. Tanta programação e tanta coisa para ver que absolutamente todos passaram por um momento barata tonta nos corredores, com dificuldade para escolher em qual palestra ou evento participar.
Este ano fui empurrado com força para dentro do evento pelo meu amigo Mario Nakamura da Cinerama Brasilis, que participou como patrocinador, apoiador, colaborador, palestrante. O japonês, como sempre, ralou. Eu fui a quase todos os dias, faltei na sexta apenas, assisti várias palestras, encontrei muitos amigos que não via faz tempo, conheci pessoas que ainda me serão muito úteis, e sinto que fiz novos amigos. Do Ceará vieram duas grandes amigas e também produtoras, Rachel e Suzana. Uma pena a minha semana estar tão enrrolada, com a Karina em Brasília, senão eu teria aproveitado ainda mais. Deixei de ver coisas legais.
A Imagina tem que estar presente e no ano que vem iremos nos preparar muito melhor para aproveitar de forma mais completa o evento. A onda do conteúdo é muito forte, pega todo mundo. Mesmo sem me dedicar, olhando para trás vejo que quase 30% do que a Imagina produziu em 2014 pode ser considerado conteúdo para os clientes. E olhando para frente, já estamos com um projeto em andamento com própria Cinerama Brasilis, acabei de me inscrever em um Edital do PRODAV e estou desenvolvendo vários projetos na área de conteúdo.
Mas não é fácil. Desenvolver filmes, séries, programas, exigem tempo e o engrenamento de uma série de talentos. Para quem é de publicidade é um processo lento, muito menos rentável. Como as palestras desenvolveram, é também um processo sofisticado pois com o advento das transmídias, do já avassalador avanço dos computadores e da internet sobre o entretenimento, tudo tem que ser pensado para múltiplas telas e múltiplas interações, aumentando ainda mais o já longo cartel de talentos que tem que ser colocados para o trabalho conjunto.
Como o equipamento de captação e de finalização é hoje acessível para todos, a diferença entre os projetos de conteúdo tem que ser na idéia e na capacidade de produção, dito aqui no sentido de organizar os recursos para fazer tudo andar. Em criar novas maneiras para produzir, adequadas aos novos timings de produção e desenvolvimento.
Não bastassem as dezenas de canais digitais no cabo, que por lei tem que apresentar produção local em sua grade, as smartv’s e computadores estão também entrando nesta área, com canais exclusivos em diversos domínios, todos precisando de conteúdo. Sem falar no NetFlix, Hulu, AppleTV e outros, que também brigam para apresentar conteúdo e atrações para os mesmos consumidores.
Todo mundo oferecendo audiovisual ao mesmo tempo, de diversas maneiras e o homo sapiens tem suas limitações, só pode ver uma coisa de cada vez.
Concordo com o Steve Jobs quando ele explicou o porquê da Apple ir devagar com os projetos da Apple para a TV. Segundo ele, a cabeça das pessoas pode funcionar de duas maneiras ao consumir entretenimento, de modo passivo ou ativo. No modo passivo, a responsabilidade por entreter é dos executivos do canal escolhido. A pessoa senta, escolhe um estilo de entretenimento e o canal tem o trabalho e responsabilidade de resolver isso: “entretenha-me”. Já no modo ativo, na frente de um computador ou qualquer outro dispositivo em que se possa parar, continuar, gravar, ver depois, passar o link para outro, adiantar, repetir, enfim, que se possa controlar totalmente, a cabeça da pessoa não relaxa. Segundo Jobs, isso não é entretenimento, dá trabalho. Ou mudam as pessoas ou mudam as maneiras de oferecer este conteúdo para as pessoas.
Como se destacar, como proteger e finalmente como monetizar o resultado do seu trabalho, em um ambiente com milhares de canais e oportunidades para a dispersão. Mais um imenso desafio em que todos estão juntos. Os canais precisam de conteúdo, os produtores precisam de canais para veicular suas produções e tudo isso tem que girar com economicidade. Estamos em um momento no qual estão sendo estudadas todas as possibilidades para todos os desafios descritos acima, e isso faz borbulhar o Rio Content Market.
Sabemos que vai mudar, sabemos que precisaremos de conteúdo e então, vamos produzir!
Mário Barreto
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