A questão da Escala de Trabalho

A questão da Escala de Trabalho

Estão muitos por aqui, e por ali, discutindo a questão da escala de trabalho. Argumentos daqui e dali, mas não vi ainda o que para mim é uma questão central na discussão, que é o valor do trabalho. Se trabalhar valesse a pena, os caboclos e caboclas trabalhariam, felizes, 7×0. O problema é que ao longo dos últimos 50/60 anos, o trabalho vale cada vez menos, pressionado pela tecnologia, pela quantidade de trabalhadores disponíveis que praticamente dobrou com a inclusão das mulheres, e com a tomada de todas as empresas do mundo pela liderança financeira.

Na novela recente teve uma cena, que virou meme, quando uma personagem faz uma introdução longa dizendo mais ou menos assim: “E você acha que eu vou me vender? Minha história, todas as coisas que eu fiz e blá blá blá”, quando é interrompida pelo outro personagem que corta dizendo: “Seis milhões na sua conta”. Imediatamente acaba a discussão, tá tudo certo, ela botou a viola no saco e já aliada dos 6 milhões, começou a obedecer ao plano.

É isso, se o trabalho estivesse valendo a pena no Brasil, quanto mais trabalho melhor. Como é para aqueles que emigram do Brasil para outros países, onde não existem CLTs, mas o trabalho é bem pago. Com dinheiro na conta, o trabalhador tem a liberdade de escolher quando e como ele irá descansar, baseado no seu próprio planejamento. Eu tenho uma amiga, por exemplo, que foi morar na França, casou-se lá com um francês e que trabalha apenas 3 meses por ano na colheita da uva. Nestes 3 meses ela vai para uma plantação, o marido vai para outra, eles tiram férias conjugais de 3 meses e faturam juntos os suficiente para viverem os outros 9 meses do ano. Segundo ela, que não quis ter filhos, eles não querem ter coisas, querem apenas viajar e comprar livros. 3 meses de trabalho de cada um, dá para isso. E pronto.

Os salários atuais, se você trabalha na iniciativa privada, estão aviltantes. A tecnologia corta necessidades, existe uma oferta brutal de mão de obra e as empresas só pensam na última linha, o lucro que sobra entre o faturamento e as despesas. Salários para eles é despesa. Se puder ser realizado por robôs, melhor ainda. A segunda melhor coisa é pagar o mínimo possível. Não acreditem no que dizem os profissionais de “Capital Humano”, é tudo mentira. “Nossos colaboradores são o maior ativo da empresa”, tudo mentira. No primeiro aperto são todos demitidos, e os salários oferecidos cada vez menores.

Não tão longe, na década de 1970, era comum que apenas os homens trabalhassem, e mesmo assim suas casas suburbanas eram pintadas, tinham 3 ou 4 filhos e um fusca. Hoje, em uma família de 4 pessoas é necessário ter uma renda de 8 para viver bem mais ou menos.

Então é fácil entender o lado do trabalhador. Ganha pouco, esforça-se muito, o trabalho é um estorvo, com transportes, instalações, promoções, ficando a cada dia mais difíceis. E lendo no smartphone que o conglomerado financeiro do qual sua empresa faz parte apresenta lucros recordes e que o principal executivo subiu tantas posições na lista dos bilionários. Não dá né?

E também é fácil entender o empresário que não é protegido pelo governo, que sofre para pagar impostos e taxas escorchantes, sempre lutando entre empreender ou parar tudo e viver de emprestar dinheiro ao governo e ganhar dinheiro sem fazer nada e sem dar emprego a ninguém. Aumentar ainda mais qualquer despesa, salários, é um luxo que não se pode sequer pensar.

As sociedades precisarão lidar com este desafio. Em um mundo em que o trabalho diminui, e que o valor do trabalho também diminui, quem terá recursos para fazer a roda da economia girar? Não esperem que os que atualmente estão se beneficiando da situação, venham com a solução. Eles não tem e não querem solução para um problema que não é deles.

Como diz o ditado, “Trabalhar não é ruim. O ruim é ter que trabalhar.” Se o trabalho fosse bem, ou melhor pago, não seria um problema tão grande mexer nas escalas de trabalho. Mas, por esta merreca aí… aí não né?

Sobre o Autor

Mario Barreto administrator

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestras em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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