História resumida do NLE

História resumida do NLE

Semana passada fui convidado e participei de uma “live”, junto com amigos, para a Edt. Associação de Profissionais de Edição Audiovisual – https://www.edt.org.br. Foi muito legal, passou rápido, espero que tenham curtido. São muitos anos de profissão, tantas coisas para lembrar, contar, o tempo voa.

As vezes (muitas, kkk), sinto-me como Roy, o replicante de Blade Renner: “I’ve seen things you people wouldn’t believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain…”

“Gentes, eu fiz muita transferência de arquivos usando Laplink ligada na porta paralela centronics. Transferi 10 Mb de um PC ao lado do outro, usando caixas e caixas de disquetes flexíveis de 5 1/4.” Olhando de hoje, soa quase igual a frase de Roy Batty. Um mundo muito distante e selvagem!

Eu estava lá, em quase todas as NABs e Siggraphs desde 1989, quando o Media Composer foi lançado. Que coisa revolucionária quando vi. Uma imagem muito porcaria (menos do que AVR70, muito menos), um “frame rate” ridículo, uma capacidade limitada, mas rapidamente tudo mudou. Ao ponto de já em 1996 Walter Murdoch ganhar um Oscar pela edição do Paciente Inglês, feita em Avid. No início limitado aos comerciais, por não conseguir storage, as coisas foram mudando progressivamente até dominarem o mercado. Um caminho evidentemente sem volta. A Edição Não Linear é tão mais poderosa, criativa, libertadora. É difícil até explicar como era uma edição linear de vídeo, BVEs, EDLs, dinossáurico.

Lembro-me de estar no estande da Avid, um dos primeiros, e tentando explicar aos moços… “gente, lá no Brasil existe uma parada de reserva de mercado de informática e é impossível importar Macintoshes… não dá para botar para rodar em PC’s?” NÃO!, foi a resposta, os PC’s eram muito chumbregas naquela ocasião. Esta lei só caiu em 1991 com o grande Collor, mas os Mac’s e os Avid’s somados, eram muito caros.

A Apple inicialmente apoiou totalmente a Avid, parceira no negócio, pois para cada Avid vendido, ia um Macintosh. Os PC’s tiveram que esperar 10 anos, até 1998 quando rolou um Media Composer para Windows. Claro que tinham concorrentes mas nada competia de verdade com o Media Composer.

Porém a Apple achou que o alto preço que a Avid cobrava por seu sistema integrado estava atrapalhando as vendas de Mac, ainda mais com o sistema sendo liberado para Windows e reagiu comprando e integrando o Final Cut. Acreditou que existia uma mercado maior, se fosse mais barato. Tinha razão. Aí sim, pintou um concorrente mais decente. Lançado em 1999, o Final Cut começou ruim, mas como era estratégico para a Apple, foi melhorando a cada versão até ficar bem profissa. Claro que amantes do Media Composer jamais diriam uma coisa destas. Ele tinha seus pés de barro, mas funcionava bem e era muito mais barato. A Apple vendeu muito mais Macintoshes para rodar Final Cuts. Tanto que em 2006 a Avid desistiu de vender Macs juntos e passou a vender só o software.

Em 2003 a Adobe deu um up no Premiere, lançando o Premiere Pro, mas neste momento era “toy”, não dava para o cheiro.

Quem tinha grana e não queria problemas gastava mais e comprava AVID Media Composer, quem queria mais liberdade e gastar muito menos, principalmente em storage e acessórios, ia feliz de Final Cut Studio Pro (7) até que em 2012, com o advento dos programas todos em 64 bits, o Final Cut arregou. Ele era todo escrito em 32 Bits, a Apple parece que não tinha vontade nem os fontes do programa para simplesmente recompilar o bicho em 64 bits e inventou de mudar tudo, lançando o maldito primeiro Final Cut X, logo apelidado de iMovie Pro. Um produto ruim e pretensioso, um pouco a frente de seu tempo, feito por uma empresa que agora se dedicava muito mais a vender iPhones do que computadores e muito menos software de edição. O Final Cut 7 chegou no fim da linha, não conseguia tocar direito MPEG4, tudo tinha que ser passado para ProRes, um processo demorado.

Em sua primeira versão passou a ignorar VT’s, em uma época em que eles ainda rodavam, lamentável. E o pior, não abriam projetos do Final Cut antigo, imperdoável.

Neste momento o Premiere Pro deu um pulo e avançou com força sobre todos os usuários de Final Cut Pro. Todo em 64 Bits, tocava os MPEGs rindo, estável, veloz, deixou de ser brinquedo e abocanhou um mercado que precisava ter um editor versátil e barato. E o melhor, funcionava em Mac e PC, facilitando as coisas

Clique para ver o Premiere na Adobe

Depois o Final Cut X veio melhorando e hoje, por incrível que pareça é o o meu NLE de escolha, porque acho que ele proporciona uma montagem mais fácil e criativa.

Para um Editor de ofício, que só edita, o Premiere talvez seja melhor, mas para um Diretor montar, acho o Final Cut mais rápido, fácil e gostoso.

Clique para ver o Final Cut X na Apple

Acima de tudo e de todos, o Avid Media Composer, para mim o único realmente no nível que uma emissora de TV ou um longa de responsa deve considerar. Não dá para comparar o suporte e a estabilidade de um sistema Avid instalado em uma TV para fazer uma novela, por exemplo, com um Premiere ou Final Cut.

Não posso falar muito de Media Composer porque usei muito pouco. Em 2019 recebeu melhoramentos que dizem ter sido muito necessários para os novos tempos onde se edita mais para o Instagram do que para TV ou cinema, kkkkk.

Clique para ver o Avid Media Composer na Avid

O único outro que posso falar, e muito bem, é do Da Vinci Resolve. que uso muito bem e adoro. Não tanto quando o Final Cut, mas gosto muito. É sólido, tem uma interface lógica e é muito completo. O que me irrita no Premiere Pro é a sua interface, que acho feia que esconde as funções. O Resolve tem uma atração irresistível, é grátis.

Clique para ver o Da Vinci Resolve na BlackMagic

O trabalho do editor, assim como muitos neste mundo louco, está mudando muito. São muitos formatos, edição em 3D, edição em 360 graus, complexo.

Quem tem dinheiro e precisa de uma instalação com suporte, “quase” infalível, vai investir em equipamentos e etc, não tem muito o que pensar, vai de Avid. Tem a menor fatia do mercado, mas a mais sofisticada. E quem domina a plataforma, ganha mais, é mais Pro.

Espero que está retrospectiva histórica e análise sejam úteis.

Mário Barreto.

Sobre o Autor

Mario Barreto administrator

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestras em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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