A decisão, lá atrás, meio dos anos 90, de comprar Workstations Silicon Graphics foi guiada pela necessidade de pular no barco da Composição Digital, uma então nova área na produção de imagens e que só era possível de ser realizada nesta categoria de computadores. Não pensávamos em usar as máquinas para fazer 3D. Aqui no Brasil elas eram caríssimas e como tínhamos muitos assentos de animação, não teríamos como dar uma Silicon para cada animador. E estávamos satisfeitos com os 3D MAX. Ih! Vejo agora que vou falar do PowerAnimator antes de falar do MAX… Sem problemas, depois falo disso.
Mas com as máquinas instaladas e funcionando, o Roberto Ribeiro, brasileiro então trabalhando na Alias, parcelou, fez um precinho e acabamos comprando uma licença de PowerAnimator para sentir o gostinho de trabalhar em 3D em highend. Até porque nossa grande concorrente de então, a VetorZero, estava fazendo grandes filmes como o “totó” (pebolim não existe) da CocaCola, usando TDI Explorer.
Antes um pouco de história… a Alias foi mais uma empresa que nasceu depois do big bang da Abel & Associates/Omnibus. Maior galera ficou sem emprego e como este mercado ainda não existia, cada um abriu o seu negócio. A Alias foi fundada e se desenvolveu em torno das necessidades de seu primeiro cliente, a indústria de automóveis. Eles tinham dinheiro e necessidade de começar a projetar automóveis no computador. Por isso a Alias tinha ferramentas tão boas de modelagem em NURBS. Muito melhores para desenhar carrocerias em linhas fluidas do que a modelagem poligonal. Era uma das grandes highend de então, junto com a Softimage, a Wavefront e a TDI.
A Alias juntou-se com a Wavefront, formando a Alias Wavefront e o PowerAnimator virou o seu produto de batalha. O poder da modelagem do Alias, somado as capacidades procedurais do Wavefront. Como eu já disse anteriormente, quando a SGI sentiu a panela ferver com a compra da Softimage pela Microsoft, ela acabou comprando a Alias Wavefront + a TDI Explore, para com isso iniciar o projeto Maya. Deixemos o Maya para depois.
Instalamos o PowerAnimator e NUNCA fizemos um só trabalho com ele. Não tínhamos Onyx e o desempenho dele em nossas máquinas, comparado ao trabalho dos PC’s rodando 3DMAX era sofrível. Lento de render, lento de animar, lento de tudo. Nos PC’s podíamos espalhar o render em umas 20 máquinas. Sem falar que teríamos que treinar os animadores para um novo sistema. Além disso, o mercado tinha muito mais trabalho, mas não era um volume de jobs para highend, era de uma qualidade que conseguíamos atender usando um software mais barato e mais rápido.
Dito isto, o PowerAnimator ficou por lá enfeitando as máquinas e prateleiras, já que eram trocentos manuais impressos que acompanhavam o produto. Enchiam uma grande prateleira Fiz os cursos, aprendi a usar mas na real ele só enfeitou. Como nossos clientes não sabiam de fato o que usávamos, e a finalização de tudo passava pelo Flint e Media Illusion, alguns saiam com a impressão de que estávamos usando o 3D highend em tudo. Ilusão. Serviu para isso e como base para o entendimento do MAYA, que uso até hoje.
Não que o software seja ruim, ao contrário, era ótimo e usado por todas as grandes produtoras do mundo em sua época. Inclusive continuou sendo usado por elas até o Maya se acertar, o que demorou umas 3 versões. Nós é que não tivemos condições de aproveitá-lo direito. O South Park, surpreendentemente, era todo animado em PowerAnimator.
Mário Barreto
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