Trabalhar na Globograph era bom, era ótimo. Mas tinha limitações evidentes. Tínhamos salário razoável, a equipe era grande, o software proprietário, e isso tudo eram impedimentos para o progresso rápido que queríamos em liberdade, grana e tecnologia. Com o lançamento da Placa AT&T TARGA, dos primeiros PC’s 386, dos primeiros softwares relativamente acessíveis, vimos aí uma oportunidade para crescer.
O primeiro passo foi comprar um PC, uma TARGA 16 Bits e um TOPAS.
O Topas foi desenvolvido pela Crystal e vendido também pela AT&T como parceiro da TARGA. Era o kit, TARGA + TOPAS + que era o paint system derivado do True Color Paint que falei em artigo anterior. Um sucesso.
O primeiro TOPAS que tivemos, versão 2 ponto alguma coisa, era um lixo completo e quando a primeira versão usável apareceu, 3 ponto alguma coisa, nós escolhemos usar o original, o Crystal e não o TOPAS. Eles eram iguais em features e a diferença era que o TOPAS rodava inteiramente na placa TARGA, no monitor RGB. A interface com o usuário era diferente, e para mim, pior. O Crystal, dividindo a interface em dois monitores, parte na tela CGA e apenas a imagem de TV no monitor RGB, era mais parecido com o Cubicomp, com o Script e a tela CGA mantinha mais informação disponível ao mesmo tempo. Era muito melhor, mas poucos usavam Crystal, a imensa maioria usava o TOPAS que era mais conhecido e vendido em bundle com a placa.
Nesta época tudo era problema. Ainda estávamos na reserva de mercado, então o PC era uma porcaria nacional montado com placas bem vagabundas e caras, em um gabinete horroroso. A Targa e o Tablet Summagraphics foram trazidos em uma viagem por um amigo e o monitor RGB foi fabricado in-house pelo Sérgio Fiúza, modificando uma TV Phillips caseira. Começamos logo esbanjando memória, 8 Mb de RAM, um luxo.
Funcionava bem. O sistema era mais moderno do que o Cubicomp que eu usei, o Picture Maker 30. Era otimizado, render rápido, poucas funções mas tudo o que tinha funcionava bem e com segurança. Era menos aberto em conceito, não tínhamos muito como torturar o sistema para obrigar ele a fazer o que queríamos, ele não tinha muitas portas para isso.
Tudo era ruim no sistema, o render vagabundo, a animação difícil de controlar pois ele só respeitava os keyframes iniciais e finais, sendo que os intermediários eram usados como pontos de controle. Mas era um ruim que nos ajudava, pois tendo experiência e sabendo identificar uma imagem ruim e uma animação ruim, conseguíamos atuar para minimizar.
Logo a produtora cresceu e tivemos que comprar mais TARGA’s e aprender uma maneira de duplicar os softwares!! Antes do 3D Studio, cada estação tinha que ter seu frame buffer. Compramos a evolução da TARGA, a TARGA+ e o Sérgio Fiúza e o Alexandre Sadcovitz vieram para assumir estas estações. Junto com o Thomas Wilson a equipe ficou finalmente completa.
Ainda não existia uma rede boa, e no início usávamos cabos centronics paralelos com Laplink para ligar os computadores e transferir arquivos!, e patchs de video para ligar na novíssima Sony BVU-950, controlada por um controlador que o Sérgio construiu. Ainda não usávamos um Encoder, usávamos a saída de composto podre da própria TARGA.
Nossa expertise de TV Globo fez MUITA diferença neste início. Esta instalação, junto com o pacote QFX do Ron Scott, nos permitia fazer coisas que os demais usuários de TOPAS nem sonhavam. Isso nos permitiu crescer bastante e rápido na publicidade.
Para TV, nosso primeiro trabalho grande foi para a TV Manchete, umas vinhetas criadas pelo Adolfo Rosenthal e o Toni Cid Guimarães, os dois também ex-Globo. Lembro que como não tínhamos máquinas de 1 polegada, a TV Manchete levou lá uma BVH-500… vou te contar… ficou pior do que a nossa U-Matic, que era completa e tinha o Board TBC e TC.
O Crystal nos serviu até o advento do 3D Studio, que rompeu barreiras técnicas e marcou uma nova era para os estúdios, mas isso fica para o próximo post.
Como sempre, espero que estejam gostando.
Mário Barreto.
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