Ah… as coisas não mudam e sempre tem um guru, influenciador, sabichão, coach, espertão para dizer que o segredo é “fazer mais por menos”. Acabei de assistir um filme de uma produtora falando novamente isso.
Me lembrou o papo que eu tive com o saudoso amigo e publicitario Marcos Calvi. Fizemos um monte de filmes juntos. Ele me ligou, para me alertar de que ele recebeu uma proposta bem atraente de um concorrente meu, preu ficar ligado.
A proposta era a seguinte… a produtora entraria no processo criativo bem no seu início, colaborando na criação. Isso, segundo eles, minimizaria ruídos e seria capaz de gerar um resultado mais efetivo e orçamentos mais adequados. Ele achou a proposta incrível!
Eu imediatamente retruquei… então… a produtora se ofereceu para trabalhar mais, por mais tempo, para no final de tudo ter como objetivo reduzir o valor do orçamento. Não achei grandes coisa. Na verdade, achei uma proposta de merda. Além do que, meu trabalho seria o de diretor de filmes, com responsabilidades sobre a direção, animação, VFX, cinematografia, edição e produção.
No meu caso, sou também publicitário e criativo, comecei na Artplan e cheguei até ser dono de agência, mas não estaria dentro do escopo da produtora, criar o filme. É outro trabalho.
Agradeci a preocupação do amigo, mas disse que eu jamais concordaria com isso. Na minha cabeça mais trabalho=mais caro. Igual no supermercado quando eu compro mais 1kg de arroz=mais caro.
Pressionados pelos clientes, que há muito tempo são geridos e comandados por financeiros, as agências procuram orçamentos cada vez menores e sempre tem um sabichão para dizer que é assim que se faz.
Idiotas. A produtora que na época ofereceu este trabalho ao meu amigo não durou nada… desapareceu. A agência do meu amigo derreteu também.
Não há segredo no sucesso financeiro de um negócio, basta ser pago, justamente, por todos os seus trabalhos. Se você consegue ser pago justamente por seu trabalho, por um tempo suficiente, vc vive e faz reservas para viver e investir na sua vida, no seu negócio, no seu mercado.
Sempre irão aparecer estes espertos para dizer que a tecnologia, a IA e outras coisas irão permitir orçamentos mais enxutos, mais baratos. Uma mentira, porque a capacidade de cobrar, mudar, refazer, dos clientes, é infinita, de modo que o tempo médio para a produção de um filme mais ou menos se mantém. O seu custo é mais baixo em pessoal, em equipamentos, mas mesmo assim, não compensa, porque concorrentes nascem a cada segundo e não se realiza a quantidade que seria capaz de contrabalançar o preço mais baixo.
Lembrando que o seu preço abaixa, mas o colégio das crianças, o carro, o aluguel, as passagens aéreas, o supermercado, sobem. A tecnologia permite equipamentos mais baratos, mas reparem que são outros equipamentos, não são os mesmos. No seu caso, é o mesmo trabalho.
Os clientes, geridos por financistas, só pensam em dinheiro, em economizar em tudo para que sobre mais para os acionistas, os “stockholders”. Não são seus amigos ou parceiros para nada.
As agências, pressionadas por seus clientes, também não são. Salvo interesses específicos, tem 2.671 opções para escolher no mercado.
Além do que, são quase todas parte do WPP, Interpublic, Omnicom ou Publicis, que por sua vez são da BlackRock e Vanguard, que controlam a maioria dos grandes clientes do mundo. Ou seja, é tudo farinha do mesmo saco, controladas por financistas.
Finalizando, é mentira que a redução dos preços forçada pelos financistas e operacionalizada pela tecnologia é um bom futuro. Não é. A redução “seus” preços apenas concentra os lucros nas mãos deles, onde geralmente os preços, sempre, sobem.
Fica a dica. Grato.
Para atender ao nosso cliente, a Construtora AC2R, a Imagina fez uso intensivo de tecnologias que estão todos chamando de Inteligência Artificial. E foi uma experiência incrível.
A demanda foi a de realizar uma simplificação do Código de Ética e Compliance da Construtora, visando um público alvo de operários da construção civil. O formato escolhido foi o de Quadrinhos, para tornar além de simples, atraente.
Para a simplificação e edição dos textos necessários, usamos extensivamente o Open AI ChatGPT. Bem direcionado, corrigido e baseado no texto original o sistema foi capaz de editar textos adequados a nova proposta, acelerando e facilitando muito o processo de criação.
Para a ilustração dos Quadrinhos, foram produzidas mais de 40 ilustrações, usando o Discord MidJourney. Uma ferramenta difícil e desafiadora, que estamos apenas começando a explorar, mas que apresentou um resultado fenomenal, frente a qualidade obtida e a velocidade de produção.
E para a arte-finalização, montagem dos Quadrinhos, usamos o Canva, que melhora a cada segundo e no momento apresenta ferramentas de produtividade incríveis. Uns poucos retoques foram necessários usando Adobe Photoshop e GIMP.
Somente desta maneira, usando ferramentas avançadas de IA, foi possível cumprir o prazo e manter o preço dentro do orçamento. É uma revolução na maneira de trabalhar e que vai impactar de maneiras novas o mercado de trabalho para designers, criadores e ilustradores.
Dividindo minha experiência com minha orientadora de Mestrado, a Professora Roberta Portas da PUC-Rio, chegamos a conclusão de que a formação, talentos e capacidades dos profissionais, em sua base, não mudará muito. Fui bem sucedido porque tenho a experiência, o talento e a competência para usar as ferramentas de forma correta, eficiente e fazer boas escolhas, direcionando “prompts” de maneira a extrair delas um bom resultado. Lembrei que antigamente, eu tinha que manipular um aerógrafo para criar um degradée, algo que hoje é feito em segundos com o Adobe Photoshop, e isso não fez de mim um designer ou artista ultrapassado ou inútil. É um novo mundo que está diante de nós.
Gente… e não é que a Transbrasil ainda não ficou pronta?
Em outubro de 2014, ou seja, 9 anos atrás, eu recebi uma ligação aflita do consórcio construtor dizendo que dali a uma semana o Prefeito Eduardo Paes iria falar em um evento aberto ao público, dando o ponta pé inicial para as obras da quarta linha BRT da cidade. Depois da TransOeste, da TransCarioca e da TransOlímpica, estava chegando aí a TransBrasil, que seria (será?) a maior linha BRT do mundo!
Sem briefing, sem nada, tipo se vira aí seu Mário e faça um filme para o evento… Como eu gosto de dinheiro e de trabalhar, meti “as caras”, escrevi e produzi em tempo recorde um filme contando a história da Avenida Brasil, que é incrível. Contando a história dos prefeitos que mexeram nela… ficou um filme muito bacana e olha que nesta época eu ainda não era Historiador.
Pois é, ficou bonito mas foi bombado pela assessoria do Prefeito. Falaram que ele não curte ser comparado com ninguém, e que a história da Avenida Brasil não interessava. Uma pena, foi tudo para o lixo.
Passaram finalmente um briefing e ainda zonzo da trabalheira que foi fazer o primeiro filme, meti bronca e falei que para fazer outro, eu cobraria de novo. Não tive culpa pela desorientação. O prefeito adiou por uma semana o evento e tive mais uma semana para começar do zero um outro filme.
Foi também uma maluquice sem fim. Como cinegrafista e DP usei meu camarada, o agora canadense Vilson Jr., muita imagem de helicóptero e um corre-corre sem fim para aprontar.
Lembrei de contar isso agora hoje mexendo em meus arquivos achei uma imagem de proposta de estação de BRT. Tudo porque na véspera, literalmente na véspera da exibição do filme, ainda faltando muita coisa, o Prefeito berrou e disse que não queria aquele “galinheiro” como design para as estações e mandaram esta imagem aí. Muito mais bonita. Agora imaginem, o filme quase lá e teríamos que mudar todas as estações, em 3D render. Não dava, era impossível.
Virei a noite inventando uma edição para resolver isso e foi a primeira e única vez na vida que um trabalho me deixou biló das idéias. Eu surtei. Mas me recuperei e inclusive fui lá no evento participar da exibição. E, longe, muito longe do que se tinha planejado, funcionou!!!!!
Estamos agora, 9 anos após este episódio, a TransBrasil não ficou pronta e as estações são o galinheiro que o Prefeito detesta. Será que um dia esta TransBrasil ficará pronta? Funcionará? Como diria minha mãe, “sabe Deus!”
Fica aí mais este trampo. Adoramos fazer, mesmo surtando.
Conforme eu havia prometido, vou escrever sobre o trampo histórico que realizamos durante anos, para a TV Globo, que foi a animação dos resultados do TC Bamerindus.
Isso é história! E é adequado, pois eu sou historiador, e dedicado a contar a história da televisão, propaganda, computação gráfica e efeitos no Brasil. Graças a Deus eu tenho o que contar.
Então amigues, o TC, Títulos de Capitalização, Bamerindus eram sorteados no sábado à noitinha, e no mesmo sábado uma animação com este resultado tinha que ir ao ar ao vivo no programa do Faustão. Para quem não sabe, e devem ser muitos, o Bamerindus, Banco Mercantil e Industrial do Paraná, foi um banco paranaense que alcançou muito destaque no Brasil. “O tempo passa, o tempo voa; e a ‘Poupança Bamerindus’ continua numa boa… é a ‘Poupança Bamerindus’!“
Pois é, estes contratos eram gerenciados pelo Departamento de Merchandising da TV Globo, onde eu muito orgulhosamente fui Diretor de Arte por alguns anos e tinha muitos amigos. A TV Globo então me consultou… Mário… dá prá fazer?
Era puxado. Primeiro porque tinha que trabalhar nos sábados… todos os sábados. Segundo, porque em uma época quando a edição era em fita de video tape, e realizada quadro a quadro, ou seja, os computadores não conseguiam ainda dar “play” em uma animação em 29.97 quadros por segundo, eu tinha que resolver de uma maneira o mais eficiente e automatizada possível.
Topei, e junto com a minha equipe na época, Thomas Wilson, Levi Luz, Paulo Galvão e outros, criei uma animação que pudesse ser automatizada usando as ferramentas rudimentares de composição digital que tínhamos, as QFX. Em uma expertise que eu levei da Globo Computação Gráfica, que hoje é banal mas na época não era, éramos capazes de fazer as animações separadas e aplicar em composição com o canal alpha, fazendo multilayers em uma época bem anterior ao After Effects e quetais…
Na TV Globo tínhamos o Mario Augusto, o Paulo Roberto, José Mauro e mais um monte.*
*Mário Augusto me mandou mensagem corrigindo algumas coisas. Memória de elefante. Lembrou-me de trabalhos anteriores que eu nem em sonho lembraria, como umas vinhetas em CGI para as Olimpíadas do Faustão, e deu créditos importantes para o querido e inesquecível Reinaldo Bierrenbach e do também querido Marcelo Duarte, que foram os que mais atuantes estiveram neste trabalho do TC Bamerindus. Disse-me também que meu contrato era com a Talent, do também querido Júlio Ribeiro e aí sim eu lembrei da reunião em São Paulo quando batemos o martelo disto tudo.
Criamos a animação (uma pena que eu não as tenha aqui na mão). Eu programei um sofisticado arquivo de DOS Batch, usando uma versão modificada do Sequence do Cubicomp, que permitia fazer algumas interpolações, junto com o Ron Scott QFX, que também me permitia manipular parâmetros. No final eu tinhas os números separados com alpha channel e os ia aplicando manipulando as suas posições x,y, salvando a sequência de arquivos TARGA que depois eram editados Frame a Frame na nossa Betacam SP. Funcionou 100% sem falhas, mas demorava umas 3 horas para acabar todo o processo.
Funcionou tão bem que a TV Globo renovou o contrato e para a nova temporada eles pediram uma nova animação. Esta nova eu também participei, mas o na época meu sócio Alexandre Sadcovitz fez um programa muito mais sofisticado em Quick Basic Professional, usando as mesmas ferramentas, mas com interface e mais sofisticação e facilidade de uso, identificava a fita, dava previsão de conclusão… um luxo.
A pior parte era gerenciar a galera. Fazíamos rodízio para este maldito sábado (eu não, eu era chefe né), mas não podia ter falhas. Uma vez falhou, a pessoa designada sumiu e eu tive que vir correndo de Angra dos Reis para fazer a animação. Até o fim, sempre rolava um certo stress.
O processo era ficar na produtora até receber a chamada do Produtor da TV Globo, que passava o resultado. Conferido, ele perguntava quando ficaria pronto e dávamos início a produção. Entrávamos com os dados no computador e aguardávamos o render e depois a rebolada Frame a Frame da Betacam fazendo a edição das centenas de imagens, uma a uma. Mesmo tendo sido aprimorado, o processo ainda levava mais de 2 horas. Descia-se para comer alguma coisa, fazer hora e na volta tínha-se que conferir, travar a fita e ir entregar no Jardim Botânico. Em toda a minha vida de produtor, foi um dos únicos trabalhos certos, com contrato anual, que eu tive na vida.
Estou procurando imagens e assim que eu achar eu coloco aqui.
Hoje o Maestro Lula Wittlin me mandou uma mensagem de Whatsapp dizendo: “do túnel do tempo” e em sequência mandou a trilha que ele compôs para o grande filme institucional que fizemos para o Grupo Bozano, Simonsen, ainda na Intervalo.
Ah tempo bom… Em tudo. Éramos mais (muito) jovens, o Rio de Janeiro muito mais rico (e nós também). Outro dia, comentando com outros amigos, contamos quantos anunciantes e clientes financeiros perdemos na cidade… Banerj, Unibanco, Nacional, Bozano, Simonsen, Boavista, Econômico e Bamerindus. Certamente tem mais.
Eu sei que o Econômico era baiano, mas as coisas aconteciam aqui. Trabalhei na Propeg, como chefe de estúdio gráfico, onde dirigidos pelo Bjarke Rink fizemos a inesquecível campanha da Caderneta Econômico “Dona Onça!”. Trabalhei como um mouro, mas foi bom, este trabalho me catapultou para a TV Globo. Viviano Caldas ainda não dava choques, e também estava por lá. Quem me ligar perguntando eu canto o jingle inteirinho: “todos os bichinhos, com os sacis aprenderam a poupar…”
O Bamerindus também, era paranaense, mas fazia muitas coisas aqui no Rio. Durante anos eu fiz a animação dos sorteios do TV Bamerindus. O resultado saía no sábado e no domingo tinha que ter a animação pronta para passar no Faustão. Outro dia eu escrevo sobre esta epopéia, que também foi muito legal.
Voltando ao trampo do Bozano, Simonsen, nós tínhamos uma posição muito boa como fornecedores do Grupo né? Meu amado sócio Thomas Wilson era filho do Carlyle Wilson, Vice-Presidente do Grupo, um dos braços direitos do Julio Bozano, de modo que ao surgir a demanda, nem teve concorrência né?
Certamente foi o mais valioso job que tivemos até hoje. Contratamos um Dream Team, com Adolfo Rosenthal, Toni Cid Guimarães, Lula Wittlin e mais toda a equipe da Intervalo. Gravamos durante um ano inteiro, viajando por todo o Brasil para termos imagens de todo o Grupo. “Quarenta empresas controladas e coligadas”, entre elas a Embraer, a Renasce, que controlava os shoppings que hoje são a Multiplan, fazendas, siderúrgicas, além do Banco… era um Grupo Econômico com letra maiúscula.
Não usamos uma única imagem que não fosse nossa, tudo filmado em 35mm, ainda não existia este negócio de digital. Também não existiam drones, todas as imagens aéreas são de helicópteros. Um luxo. No escopo do projeto estava também a reforma do auditório na sede do Banco, que equipamos com Betacam e projetores da mais alta resolução na época. O Júlio Bozano convidava para almoçar lá no restaurante do Banco, e depois do almoço, passava o filme para os convidados.
Nós achando que ele queria se exibir… mas nada, ele estava é vendendo tudo. Muito resumidamente, vendeu tudo, menos a Embraer, embolsou mais de 3 bilhões de dólares, destinou meio bilhão para a ex-esposa e casou com a veterinária dos seus cavalinhos. Não é bobo não… segundo a Forbes, sua fortuna deu uma caída, agora está em apenas 2.1 bilhões de dólares, na posição de 1.493 homem mais rico do mundo. Tá ruim não.
Não foi fácil, o trabalho deu muita ziquizira, atrasos, estourou orçamento, mas ficou lindo. Na época, foi o mais lindo, bem produzido e finalizado filme institucional visto no mercado. Uma pena que era somente exibido privée lá no auditório do Banco. E na Intervalo, onde todos assistiam babando. Imagens lindas, música linda, grafismos lindos.
Assim era mais fácil manter-se na Torre do Rio Sul. Hoje provavelmente um financeiro do grupo iria travar o preço e o filme todo feito com imagens de stockphotos com gravações de iPhone. É outro pensamento, outra doutrina. Todo o dinheiro que por ventura exista, hoje em dia é para ser guardado pelo acionista principal e/ou roubado em corrupção. Dinheiro para pagar empresas e fornecedores é o mínimo possível, e como ensinam os sócios da Americanas, em 120 dias ou mais.
Não sei onde estão as cópias boas deste incrível trabalho. Certamente eu devo ter guardadas em fitas Betacam analógicas, talvez em Digital, mas no momento, só tenho esta introdução em baixa resolução, que está no Youtube…. desculpem-me. Mas já dá prá ver que foi demais. Todos os que participaram se orgulham do resultado.
Adoro este tipo de trabalho. Criação, desenvolvimento e produção de filmes institucionais. Fizemos muitos outros depois, mas neste nível, não mais.