Conforme eu havia prometido, vou escrever sobre o trampo histórico que realizamos durante anos, para a TV Globo, que foi a animação dos resultados do TC Bamerindus.
Isso é história! E é adequado, pois eu sou historiador, e dedicado a contar a história da televisão, propaganda, computação gráfica e efeitos no Brasil. Graças a Deus eu tenho o que contar.
Então amigues, o TC, Títulos de Capitalização, Bamerindus eram sorteados no sábado à noitinha, e no mesmo sábado uma animação com este resultado tinha que ir ao ar ao vivo no programa do Faustão. Para quem não sabe, e devem ser muitos, o Bamerindus, Banco Mercantil e Industrial do Paraná, foi um banco paranaense que alcançou muito destaque no Brasil. “O tempo passa, o tempo voa; e a ‘Poupança Bamerindus’ continua numa boa… é a ‘Poupança Bamerindus’!“
Pois é, estes contratos eram gerenciados pelo Departamento de Merchandising da TV Globo, onde eu muito orgulhosamente fui Diretor de Arte por alguns anos e tinha muitos amigos. A TV Globo então me consultou… Mário… dá prá fazer?
Era puxado. Primeiro porque tinha que trabalhar nos sábados… todos os sábados. Segundo, porque em uma época quando a edição era em fita de video tape, e realizada quadro a quadro, ou seja, os computadores não conseguiam ainda dar “play” em uma animação em 29.97 quadros por segundo, eu tinha que resolver de uma maneira o mais eficiente e automatizada possível.
Topei, e junto com a minha equipe na época, Thomas Wilson, Levi Luz, Paulo Galvão e outros, criei uma animação que pudesse ser automatizada usando as ferramentas rudimentares de composição digital que tínhamos, as QFX. Em uma expertise que eu levei da Globo Computação Gráfica, que hoje é banal mas na época não era, éramos capazes de fazer as animações separadas e aplicar em composição com o canal alpha, fazendo multilayers em uma época bem anterior ao After Effects e quetais…
Na TV Globo tínhamos o Mario Augusto, o Paulo Roberto, José Mauro e mais um monte.*
*Mário Augusto me mandou mensagem corrigindo algumas coisas. Memória de elefante. Lembrou-me de trabalhos anteriores que eu nem em sonho lembraria, como umas vinhetas em CGI para as Olimpíadas do Faustão, e deu créditos importantes para o querido e inesquecível Reinaldo Bierrenbach e do também querido Marcelo Duarte, que foram os que mais atuantes estiveram neste trabalho do TC Bamerindus. Disse-me também que meu contrato era com a Talent, do também querido Júlio Ribeiro e aí sim eu lembrei da reunião em São Paulo quando batemos o martelo disto tudo.
Criamos a animação (uma pena que eu não as tenha aqui na mão). Eu programei um sofisticado arquivo de DOS Batch, usando uma versão modificada do Sequence do Cubicomp, que permitia fazer algumas interpolações, junto com o Ron Scott QFX, que também me permitia manipular parâmetros. No final eu tinhas os números separados com alpha channel e os ia aplicando manipulando as suas posições x,y, salvando a sequência de arquivos TARGA que depois eram editados Frame a Frame na nossa Betacam SP. Funcionou 100% sem falhas, mas demorava umas 3 horas para acabar todo o processo.
Funcionou tão bem que a TV Globo renovou o contrato e para a nova temporada eles pediram uma nova animação. Esta nova eu também participei, mas o na época meu sócio Alexandre Sadcovitz fez um programa muito mais sofisticado em Quick Basic Professional, usando as mesmas ferramentas, mas com interface e mais sofisticação e facilidade de uso, identificava a fita, dava previsão de conclusão… um luxo.
A pior parte era gerenciar a galera. Fazíamos rodízio para este maldito sábado (eu não, eu era chefe né), mas não podia ter falhas. Uma vez falhou, a pessoa designada sumiu e eu tive que vir correndo de Angra dos Reis para fazer a animação. Até o fim, sempre rolava um certo stress.
O processo era ficar na produtora até receber a chamada do Produtor da TV Globo, que passava o resultado. Conferido, ele perguntava quando ficaria pronto e dávamos início a produção. Entrávamos com os dados no computador e aguardávamos o render e depois a rebolada Frame a Frame da Betacam fazendo a edição das centenas de imagens, uma a uma. Mesmo tendo sido aprimorado, o processo ainda levava mais de 2 horas. Descia-se para comer alguma coisa, fazer hora e na volta tínha-se que conferir, travar a fita e ir entregar no Jardim Botânico. Em toda a minha vida de produtor, foi um dos únicos trabalhos certos, com contrato anual, que eu tive na vida.
Estou procurando imagens e assim que eu achar eu coloco aqui.