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PorMario Barreto Publicado 16 de dezembro de 2024

Corta!!!

E o Mário Nakamura foi o primeiro a me dar a notícia do passamento do meu amigo Chico Abreia. Fiquei triste, é claro. Por mim, pela Ana, Francisca, pelo Caio, Manu, Luana.

Na imagem acima, de um dos vários trabalhos que fiz para ele, o bebê é a Francisca!

Em um mundo onde as relevâncias se perdem muito rapidamente, pessoas são esquecidas, não importando o quão importante elas foram, ou quantas incríveis realizações tenham concluído em sua vida.

Dando uma palestra dentro da TV Globo em 2019, onde das 30 pessoas presentes, todas trabalhando no Centro de Pós-Produção da própria Globo, 23 não sabiam quem é Hans Donner. Não é incrível?

Pois é, tirando a agora “velha-guarda”, ninguém deve saber quem foi Chico Abreia.

Saibam, Chico Abreia foi grande, foi importante, fez trabalhos incríveis, ajudou muita gente. Foi meu companheiro de trabalho na Artplan, foi meu cliente na Yes e na DM9. Durante anos foi meu amigo e cliente, dividimos um andar na Torre do Rio Sul e anos depois, dividi um endereço com o seu filho Caio Abreia. RTVC, Diretor de Criação, Vice-Presidente de Criação, Empresário, Diretor de Filmes premiado.

Graças ao Chico eu conheci a Ana Tancredo, uma querida, conheci o Leo Sérvolo, um querido, conheci o Caio e sua querida família.

Nossa transitoriedade nesta terra não é uma surpresa para ninguém, na verdade, é uma certeza da vida, e é inútil lutar contra isso. Porém, eu acredito em uma outra vida, e lá, talvez eu reencontre meu amigo. Quem sabe? Amém.

 

PorMario Barreto Publicado 27 de novembro de 2024

Vinheta Nestlé na F1 1989!!!

Caramba! Eu tinha esquecido deste trabalho. Hoje o meu amigo André Vechina me mandou este vídeo, em surpreendente estado de conservação, onde tem a vinheta da Nestlé, que fiz com o Script, sistema proprietário da TV Globo, em 1989.

Deu um trabalho danado fazer o carrinho de F1 com as ferramentas de modelagem que tínhamos disponíveis na época. Escolhemos usar uma ferramenta chamada de Cross-Section, onde você podia unir seções diferentes ao longo de uma linha, para formar um sólido. O José Dias comprou um carro de F1 em escala e usamos a carroceria para tirar o molde em borracha da carroceria. Aí fatiamos esta peça de borracha, que foi depois desenhada em papel milimetrado para finalmente fazer a entrada dos pontos no computador. Prendíamos este papel milimetrado no digitalizador com durex e íamos capturando os pontos com um “puck”.

A grande dificuldade foi que a ferramenta era muito rudimentar, e, para funcionar, todas as seções que seriam ligadas, tinham que ter o mesmo número de pontos, o que foi uma imensa dificuldade quando nos aproximamos do bico do carro, não tinha espaço para tanto ponto! Tive que usar pontos na matemática, porque no olho não dava mais.

Fica aí o importante registro, pois não fiz muitas animações no Script.

 

PorMario Barreto Publicado 24 de novembro de 2024

Tudo .IA

O momento atual me lembra quando os carros começaram a trocar o carburador pela injeção eletrônica. Todo carro injetado, tinha o .i no final do nome do modelo. Monza I, Fusca I, Kombi I, Lambretta I…. tinha que ter o I no final, para deixar claro que o carro contava com a última tecnologia, a injeção.

Na verdade, um sistema de injeção é mais simples e mais barato de produzir do que um bom carburador. E existiam sistemas de injeção desde o final dos anos de 1930. De fato, Herbert Akroyd Stuart fez um motor com injeção funcionar em 1891, ou seja, não era nenhuma novidade. A diferença é que finalmente tornou-se possível fabricar e montar nos carros de qualquer preço, um sistema simples, robusto e, principalmente, barato.

Esta é a verdade, mas quem liga para isso? O que importa, sempre, é a percepção. Sendo assim, para serem percebidos como modernos, tinham que ter o I no final do nome. Hoje não tem mais, não é mais um diferencial. Todos os carros são injetados, então não existe mais a necessidade de ficar repetindo isso.

O mesmo ocorrerá com a IA.

Desde o início da computação, a busca sempre foi esta, a do computador sabe tudo. Em 2001 uma Odisséia no Espaço, co-escrito por Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, o HAL 9000, computador de bordo, já demonstrava tudo o que hoje se chama, como se fosse novidade, de IA. É um filme de 1968, ou seja, tem mais de meio século (56 anos). É uma idéia, um conceito, velhos, conhecidos, previstos, não tem nada de novidade.

E porque demorou tanto para aparecer? Porque faltava potência barata aos computadores. Potência de cálculo, potência de comunicação, de transmissão de dados. Hoje, temos esta velocidade em tudo. Pouca gente sabe, mas quando você faz uma consulta para a Siri, este processamento não é realizado no iPhone… Ela é enviada para os computadores no centro de computação da Apple na Carolina do Norte, lá ela é processada, lá a resposta é calculada e devolvida ao seu aparelho. Tudo isso hoje em dia em uma fração de segundo, capaz de tornar a comunicação viável. O nosso cérebro tem um tempo de processamento, e quando a resposta, seja ela visual, sonora, dentro de um tempo mínimo (quem trabalha com UX sabe que tempo é este), a comunicação fica engajada. Neste tempo mínimo de tempo, dá tempo para fazer tudo isso, nosso cérebro, eletrônicamente falando, é lento para o clocks e potências de cálculo e transmissão de dados de hoje em dia.

Dito isto, ABSOLUTAMENTE TUDO que se faz hoje em dia com um computador e smartphone, é ou será em breve, realizado com a utilização de programas que usam esta velocidade de consulta e interação de dados que estão todos aí chamando de IA. Bobamente, como estavam os motoristas de anos atrás, foram bombardeados com os carros .I que não existem mais, agora são os .E de elétricos. E os programas gritando que usam IA.

Grandes coisa, daqui para frente tudo é IA. Muito em breve, isso vai sumir das manchetes.

O mundo tem que parar de ficar repetindo esta bobagem e já imediatamente usar estas capacidades dos computadores, que chegou para ficar e evoluir, e fazer um mundo melhor, mais bem escrito, mais bem projetado, mais bem desenhado, melhor em tudo. Este é o grande avanço que o mundo ganhou.

PorMario Barreto Publicado 17 de novembro de 2024

A questão da Escala de Trabalho

Estão muitos por aqui, e por ali, discutindo a questão da escala de trabalho. Argumentos daqui e dali, mas não vi ainda o que para mim é uma questão central na discussão, que é o valor do trabalho. Se trabalhar valesse a pena, os caboclos e caboclas trabalhariam, felizes, 7×0. O problema é que ao longo dos últimos 50/60 anos, o trabalho vale cada vez menos, pressionado pela tecnologia, pela quantidade de trabalhadores disponíveis que praticamente dobrou com a inclusão das mulheres, e com a tomada de todas as empresas do mundo pela liderança financeira.

Na novela recente teve uma cena, que virou meme, quando uma personagem faz uma introdução longa dizendo mais ou menos assim: “E você acha que eu vou me vender? Minha história, todas as coisas que eu fiz e blá blá blá”, quando é interrompida pelo outro personagem que corta dizendo: “Seis milhões na sua conta”. Imediatamente acaba a discussão, tá tudo certo, ela botou a viola no saco e já aliada dos 6 milhões, começou a obedecer ao plano.

É isso, se o trabalho estivesse valendo a pena no Brasil, quanto mais trabalho melhor. Como é para aqueles que emigram do Brasil para outros países, onde não existem CLTs, mas o trabalho é bem pago. Com dinheiro na conta, o trabalhador tem a liberdade de escolher quando e como ele irá descansar, baseado no seu próprio planejamento. Eu tenho uma amiga, por exemplo, que foi morar na França, casou-se lá com um francês e que trabalha apenas 3 meses por ano na colheita da uva. Nestes 3 meses ela vai para uma plantação, o marido vai para outra, eles tiram férias conjugais de 3 meses e faturam juntos os suficiente para viverem os outros 9 meses do ano. Segundo ela, que não quis ter filhos, eles não querem ter coisas, querem apenas viajar e comprar livros. 3 meses de trabalho de cada um, dá para isso. E pronto.

Os salários atuais, se você trabalha na iniciativa privada, estão aviltantes. A tecnologia corta necessidades, existe uma oferta brutal de mão de obra e as empresas só pensam na última linha, o lucro que sobra entre o faturamento e as despesas. Salários para eles é despesa. Se puder ser realizado por robôs, melhor ainda. A segunda melhor coisa é pagar o mínimo possível. Não acreditem no que dizem os profissionais de “Capital Humano”, é tudo mentira. “Nossos colaboradores são o maior ativo da empresa”, tudo mentira. No primeiro aperto são todos demitidos, e os salários oferecidos cada vez menores.

Não tão longe, na década de 1970, era comum que apenas os homens trabalhassem, e mesmo assim suas casas suburbanas eram pintadas, tinham 3 ou 4 filhos e um fusca. Hoje, em uma família de 4 pessoas é necessário ter uma renda de 8 para viver bem mais ou menos.

Então é fácil entender o lado do trabalhador. Ganha pouco, esforça-se muito, o trabalho é um estorvo, com transportes, instalações, promoções, ficando a cada dia mais difíceis. E lendo no smartphone que o conglomerado financeiro do qual sua empresa faz parte apresenta lucros recordes e que o principal executivo subiu tantas posições na lista dos bilionários. Não dá né?

E também é fácil entender o empresário que não é protegido pelo governo, que sofre para pagar impostos e taxas escorchantes, sempre lutando entre empreender ou parar tudo e viver de emprestar dinheiro ao governo e ganhar dinheiro sem fazer nada e sem dar emprego a ninguém. Aumentar ainda mais qualquer despesa, salários, é um luxo que não se pode sequer pensar.

As sociedades precisarão lidar com este desafio. Em um mundo em que o trabalho diminui, e que o valor do trabalho também diminui, quem terá recursos para fazer a roda da economia girar? Não esperem que os que atualmente estão se beneficiando da situação, venham com a solução. Eles não tem e não querem solução para um problema que não é deles.

Como diz o ditado, “Trabalhar não é ruim. O ruim é ter que trabalhar.” Se o trabalho fosse bem, ou melhor pago, não seria um problema tão grande mexer nas escalas de trabalho. Mas, por esta merreca aí… aí não né?

PorMario Barreto Publicado 25 de outubro de 2024

Pensamentos do século passado sobre o Home Office…

Eu sou de um outro tempo. “No meu tempo”, as empresas tinham donos. Geralmente os filhos ou netos do fundador, inventor, pioneiro, pessoa excepcional que deu início ao negócio de sucesso.

Os negócios de sucesso orgulhavam-se de ter a sua “sede própria”, uma instalação cuidada com carinho e que de todas as formas materializava o tamanho do sucesso da empresa.

Os funcionários geralmente tinham salas próprias, que ocupavam por anos, a empresa tinha lindas salas de reunião, refeitórios, estacionamento, secretárias. Geralmente quem fosse competente e bem sucedido em seu trabalho, ia sendo promovido até chegar na Diretoria, onde tinha um excelente salário, viajava apenas de Executiva e podia contar com um automóvel e uma secretária. E também geralmente, ali ficava até a aposentadoria.

O trabalho levava o tempo necessário para ser realizado, o funcionário geralmente trabalhava 4 horas na parte da manhã, com os cafézinhos, almoçava com calma e voltava para as 4 horas da parte da tarde. No final do expediente, cumprimentava todos com um até amanhã e ia para casa, sem tanto medo de assaltos, descansar e cuidar de sua família. Esta família era maior, não era incomum ter 4 filhos, a esposa ser “do lar” e o único provento da família ser o salário do pai trabalhador.

Os fornecedores eram sempre pagos em dia, bem como os salários e impostos, isso fazia parte da grandeza da empresa.

Ao final do ano, o negócio dava lucro. A família controladora vivia muito bem, os Diretores também, os funcionários idem e o local de trabalho era o escritório e a fábrica (quando o caso).

Agora vejam como isso era atrasado e como melhoramos.

Quase todos estes negócios foram vendidos para grupos financeiros. Ao assumir os negócios, os passos estão nos livros de administração moderna:

1 – Demitir todos os Diretores caros, cortar carros, salas, viagens executivas e secretárias.

2 – Vender a Sede Própria e alugar uma instalação sempre temporária. Contabilmente a despesa de locação é mais atraente.

3 – Implantar um sistema de pagamento de fornecedores o mais vantajoso possível, com pagamentos em 90 dias ou mais .

4 – Pagar os piores salários possíveis, pois como as empresas tem todas o mesmo perfil e muitas vezes o mesmo dono, é fácil controlar o mercado, obter informações e nivelar por baixo.

5 – Usar toda a tecnologia possível para baratear a mão de obra, quando não for possível eliminá-la totalmente.

6 – Convencer os trabalhadores de que é muito melhor trabalhar de casa, um ambiente muito mais hostil ao trabalho, usando seus equipamentos, luz elétrica e demais instalações, do que prover um escritório bem equipado e caro de manter.

7 – Denunciar os direitos trabalhistas, pejotizar todos e descartar os trabalhadores logo que eles passem dos 40 anos, trocando-os por jovens mais baratos, que com a ajuda dos sistemas e da IA, produzem a mesma coisa por muito menos. Afinal, não tem filhos e nem despesas maiores para sustentar.

No meu tempo, no século passado, mesmo funcionando de forma tão “primitiva” (pagar fornecedores com 30 dias… que primitivo), as empresas funcionavam bem, geravam lucros e a sociedade era menos pressionada.

O novo jeito de gerenciamento financeiro do mundo é, em minha opinião, uma bosta. Uma merda. A troco de concentrar uma quantidade descomunal de dinheiro na mão de uma meia dúzia de controladores, esbodega com tudo o que está abaixo. Sempre vai aparecer um para dizer que eu posso também me beneficiar deste novo sucesso financista, comprando ações destes novos e super rentáveis negócios. Só que com o meu lucro anual eu posso trocar de iPhone, enquanto os controladores pulam seu patrimônio de 45 bilhões para 62 bilhões de dólares.

Os jovens de hoje, os nem tão jovens, nunca viram um mundo melhor, tenho pena deles, porque como se fosse pouco, está ainda piorando.

O mundo dos escritórios bacanas, em prédios lindos, salas confortáveis, moça do café, secretárias, boys, horários bem estabelecidos, prazos decentes, bons salários, transporte coletivo mais seguro, vagas de estacionamento na empresa e futuro previsível, era o normal.

Hoje, como é? Pelo o que eu vejo nos memes é o caboclo trabalhar de casa, aporrinhado com as questões do lar, sem secretária, sem boy, sem um bom salário, sem garantias, sem interação, pressionado por prazos inexequíveis e sem horário de trabalho.

E o mais incrível!!! Acham bom e querem continuar assim.

Então tá né? Quem você conhece que, hoje em dia, sem usufruir de uma herança, apenas com o seu salário pode comprar um apartamento em Ipanema, um bom automóvel e desfrutar de boas férias anuais? Sem ganhar no tigrinho, é claro…